sexta-feira, 24 de abril de 2009

Resenha - 1x01 'Unknown Trouble'

Quando ouvi falar nessa nova série policial da NBC, não tinha muitas expectativas. Resolvi dar uma chance a ela, até para rever o Ben Mckenzie em memória dos bons tempos de The O.C. (até metade da terceira temporada, pelo menos). Ao final do episódio fiquei com a sensação de que algo muito bom está por vir.

No começo uma certa confusão. Ben olha para um rapaz tatuado, morto no chão, e não fazemos idéia de como aquilo tudo começou. Eu particularmente gosto desse tipo de abordagem, deixando o mistério adentrar logo nos primeiros minutos da trama. Tentar dizer o quanto é duro a vida de um policial numa cidade tão populosa é algo fundamental nessa série. Nos primeiros segundos no ar a mensagem que recebemos sobre a falta de policias em Los Angeles funciona não só como uma denúncia, mas também como o prelúdio das situações extremistas e violentas que veremos nos próximos minutos.

As imagens são cruas, a câmera nem sempre está parada e no ângulo correto. Ela treme, corre e acompanha tudo como um expectador vivo. A atmosfera criada é perfeita para transmitir histórias como as que vemos nesse episódio. E tudo isso é perfeito para levar o expectador a esse mundo tão cheio de contrastes.

Em seu primeiro dia nas ruas, Ben Sherman tem a companhia do policial veterano John Cooper. John é um policial experiente que passa seu conhecimento ao parceiro sem grandes problemas. Não é do tipo que quer ganhar vantagem em cima dos outros. Aos poucos Ben vai conhecendo o dia-a-dia nas ruas, os tipos com que tem que lidar, os casos e situações bizarras que já são comuns aos outros. Ele até chega a encontrar um corpo em decomposição numa casa fechada, em seu primeiro dia. Mas a sua maior dificuldade parece ser em lidar com um outro policial, Dewey, que o perturba por ser um novato. Mal ele sabia o que lhe reservava no final do dia.

Durante a prisão de um riquinho maconheiro, descobrimos que Ben é conhecido do garoto e partir desse momento até o oficial Cooper começa a tirar sarro do novato por ser rico, e a todo momento diz que ele pode desistir daquilo quando quiser.

A série não se foca apenas no novato Ben. Paralelamente existem outros 2 grupos da polícia que estão centrados na trama e que volta e meia se cruzam durante seus trabalhos. Num dos grupos temos os detetives Lydia Adams e Russell Clarke. Adams e Russ investigam o caso mais cruel da trama, de uma garotinha que desaparece e mais tarde é encontrada no armário de um de seus vizinhos. A abordagem é curta, mas suficiente para comover o expectador, revelando também o lado humano dos detetives envolvidos na investigação. Adams precisa manter a seriedade e o profissionalismo o tempo todo, mas quando pode, ela também desabafa e chora com o todo o transtorno do caso. É uma personagem que promete render boas histórias na série.

Na outra ponta do triângulo que sustenta a série, temos mais uma dupla de detetives, Sammy Bryant e Nate Moretta. Estes já são um pouco menos meticulosos que a outra dupla de detetives. Sammy e Nate investigam o caso de um garoto negro que foi baleado por uma gangue de latinos. É algo um pouco estranho para quem não está acostumado com as divisões da sociedade americana, principalmente aquelas nas grandes cidades. As pessoas se dividem por grupos sociais nas mais diferentes camadas, entre ricos e pobres, brancos, negros, latinos e orientais, gângsters, junkies, mafiosos, e o que mais se encaixar nessa salada de culturas.

A dificuldade de Sammy e Nate está em conseguir um depoimento oficial de alguma pessoa, entre as dezenas que viram o garoto ser cravejado de balas. O estado promete proteção as testemunhas, mas ninguém quer se arriscar. Só aqueles que convivem com essa ameaça constante nas ruas sabem o perigo que corre. E aos policiais só resta promessas que nem eles sabem se podem cumprir.

Sobre essa dupla, temos um aprofundamento na vida pessoal de Sammy, que passa por problemas em seu casamento. Apesar dos problemas com a esposa, no final do dia as coisas parecem melhores ao casal. Quem sabe nos próximos episódios não haverá um foco mais profundo nos outros personagens.

Enquanto a gangue que atirou no garoto se diverte em alto volume, vizinhos denunciam a bagunça e Ben e John, junto com outros policiais atendem ao chamado. Sammy e Nate conseguem a placa do carro da gangue que atirou no garoto, e tudo começa a se encaixar. Apesar da pouca experiência Ben consegue fazer uma abordagem correta, mas é atrapalhado por Dewey, que puxa o rapaz que ele estava revistando e o leva sem qualquer cuidado. Ao levar o membro da gangue para a viatura, o policial sacana é surpreendido pelo gangster, que puxa uma arma e acerta o policial no tórax. Em seguida Ben, não muito longe, dá tiros certeiro no rapaz, que vai ao chão já sem vida.

O ponto alto da trama é também um ponto crucial para Ben. Diante do corpo cercado de luzes, sirenes, policiais e pessoas em desespero, Ben parece reavaliar sua condição de policial. John o confronta com um discurso encorajador. "Por que acha que eles te deram uma arma?", agora há um "cara mau" a menos nas ruas, e é assim que a polícia age. É assim que John tenta convencer a Ben a não desistir de ser um policial.

Na prática as coisas sempre são mais difíceis e complicadas do que na teoria. A realidade é dura, é cruel, mas é assim que essas pessoas que escolheram esse caminho tem que enfrenta-la. É essa a mensagem que Southland deixa ao expectador. Ben ainda cruza com a irmã do garoto baleado no hospital, que está em coma. Ele comenta sobre o livro que ela lê, algo que apenas negros leriam na América. Mas ele não está tão longe da realidade daqueles garotos como eles pensavam.